segunda-feira, 26 de setembro de 2011

737 donos do mundo controlam 80% do valor das empresas mundiais

Um estudo de economistas e estatísticos, publicado na Suíça neste Verão, dá a conhecer as interligações entre as multinacionais mundiais. E revela que um pequeno grupo de actores económicos – sociedades financeiras ou grupos industriais – domina a grande maioria do capital de dezenas de milhares de empresas no mundo.
O seu estudo, na fronteira da economia, da finança, das matemáticas e da estatística, é arrepiante. Três jovens investigadores do Instituto federal de tecnologia de Zurique1 examinaram as interacções financeiras entre multinacionais do mundo inteiro. O seu trabalho - “The network of global corporate control” (“a rede de controlo global das transnacionais”) - examina um painel de 43.000 empresas transnacionais (“transnacional corporations”) seleccionadas na lista da OCDE. Eles dão a conhecer as interligações financeiras complexas entre estas “entidades” económicas: parte do capital detido, inclusive nas filiais ou nas holdings, participação cruzada, participação indirecta no capital...
Resultado: 80% do valor do conjunto das 43.000 multinacionais estudadas é controlado por 737 “entidades”: bancos, companhias de seguros ou grandes grupos industriais. O monopólio da posse capital não fica por aí. “Por uma rede complexa de participações”, 147 multinacionais, controlando-se entre si, possuem 40% do valor económico e financeiro de todas as multinacionais do mundo inteiro.
Uma super entidade de 50 grandes detentores de capitais
Por fim, neste grupo de 147 multinacionais, 50 grandes detentores de capital formam o que os autores chamam uma “super entidade”. Nela encontram-se principalmente bancos: o britânico Barclays à cabeça, assim como as “stars” de Wall Street (JP Morgan, Merrill Lynch, Goldman Sachs, Morgan Stanley...). Mas também seguradoras e grupos bancários franceses: Axa, Natixis, Société générale, o grupo Banque populaire-Caisse d'épargne ou BNP-Paribas. Os principais clientes dos hedge funds e outras carteiras de investimentos geridos por estas instituições são por conseguinte, mecanicamente, os donos do mundo.
Esta concentração levanta questões sérias. Para os autores, “uma rede financeira densamente ligada torna-se muito sensível ao risco sistémico”. Alguns recuam perante esta “super entidade”, e é o mundo que treme, como o provou a crise do subprime. Por outro lado, os autores levantam o problema das graves consequências que põe uma tal concentração. Que um punhado de fundos de investimento e de detentores de capital, situados no coração destas interligações, decidam, por via das assembleias gerais de accionistas ou pela sua presença nos conselhos de administração, impor reestruturações nas empresas que eles controlam... e os efeitos poderão ser devastadores. Por fim, que influência poderão exercer sobre os Estados e as políticas públicas se adoptarem uma estratégia comum? A resposta encontra-se provavelmente nos actuais planos de austeridade.
Artigo de Ivan du Roy, publicado em Basta!, traduzido por Carlos Santos para esquerda.net
Retirado de http://www.bastamag.net/article1719.html

1 O italiano Stefano Battiston, que passou pelo laboratório de física estatística da École normale supérieure, o suíço James B. Glattfelder, especialista em redes complexas, e a economista italiana Stefania Vitali.








Por Ivan du Roy

domingo, 25 de setembro de 2011

CORTINA DE FUMAÇA

Cortina de Fumaça from Missawa on Vimeo.

Cortina de Fumaça é um projeto independente, realizado pelo grupo COLETIVO Projects, movido pela vontade de colaborar na construção de uma sociedade mais equilibrada e alinhada com os princípios de liberdade, diversidade e tolerância. O documentário de 88 minutos, traz informação fundamentada para o grande público através de depoimentos nacionais e internacionais.
Além do Brasil, o diretor Rodrigo Mac Niven gravou na Inglaterra, Espanha, Holanda, Suíça, Argentina e Estados Unidos; visitou feiras e congressos internacionais, hospitais, prisões e instituições para conversar com médicos, neurocientistas, psiquiatras, policiais, advogados, juízes de direito, pesquisadores e representantes de movimentos civis. Dentre os 34 entrevistados, o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso; o Ministro da Suprema Corte da Argentina, Raúl Zaffaroni; o ensaista e filósofo espanhol autor do tratado “Historia General de Las Drogas”, Antonio Escohotado, o ex-Chefe do Estado Geral Maior do Rio de Janeiro, Jorge da Silva e o criminalista Nilo Batista.
Cortina de Fumaça coloca em questão a política de drogas vigente no mundo, dando atenção às suas conseqüências político-sociais em países como o Brasil e em particular na cidade do Rio de Janeiro. Através de entrevistas nacionais e internacionais com médicos, pesquisadores, advogados, líderes, policiais e representantes de movimentos civis, o jornalista Rodrigo Mac Niven traz a nova visão do início do século 21 que rompe o silêncio e questiona o discurso proibicionista. O filme foi produzido, escrito e dirigido pelo jornalista Rodrigo Mac Niven, numa co-produção entre a J.R. Mac Niven Produções e a TVa2 Produções.
Exibido pela primeira vez no Festival Internacional de Cinema do Rio 2010, o filme participou de vários festivais no Brasil e no exterior. Além disso, dezenas de exibições seguidas de deabates foram e continuam sendo feitas pelo Brasil. 
Ficha Técnica:
Roteiro e direção: Rodrigo Mac Niven
Produção: Rodrigo Mac Niven e Paula Xexéo
Realização: COLETIVO Projects
Co-produção: TVa2 Produções e J.R.Mac Niven
País: Brasil
Ano: 2010
Duração: 88 minutos
Exibição no Vimeo autorizada pelo diretor.
Postada no site do NEIP (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos) neip.info

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Qual verdade?

Por Edson Teles.
O Congresso Nacional deve aprovar hoje, em regime de urgência urgentíssima, o Projeto de Lei do Executivo que trata da criação da Comissão Nacional da Verdade. Supostamente, esta instituição teria como função apurar os crimes de graves violações de direitos humanos ocorridos durante a ditadura militar. Contudo, ao ler o Projeto com um mínimo de atenção, verifica-se que a verdade sobre a violenta repressão durante os governos militares, os quais contaram com forte apoio civil, torna-se um objeto raro neste processo.
O governo brasileiro busca impor um projeto de lei sobre a Comissão da Verdade sem ouvir a sociedade brasileira, em especial sem dar voz às vítimas e seus familiares e, ressalte-se, por meio de um ato de exceção: a votação em regime de urgência urgentíssima, pelo qual são dispensadas as formalidades regimentais devido ao caráter inadiável ou emergencial do tema em questão. Ora, como pode ser inadiável um assunto que por mais de 30 anos tem sido ocultado por acordos necessários e emergenciais? Será que depois de mais de 25 anos de democracia a sociedade brasileira não tem vida política qualificada o suficiente para discutir como quer abordar sua história e suas consequências para o presente? Por que tanta pressa? O que torna a Comissão da Verdade uma votação inadiável neste momento?
É muito provável que a urgentíssima necessidade de aprovação do projeto esteja vinculada à questão de qual verdade ou quanto dela a Comissão irá apurar. O projeto do governo, amplamente anunciado como aceito pelas Forças Armadas, indica em seu primeiro artigo todo o problema colocado. Vejamos como este artigo começa: “Fica criada, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a Comissão Nacional da Verdade (…)”. No Artigo 10º se esclarece o que isto quer dizer: a Comissão da Verdade não terá estrutura, orçamento e funcionamento autônomo em relação ao poder Executivo. Ela dependerá do “suporte técnico, administrativo e financeiro” da Casa Civil. A Comissão prevista não terá independência e autonomia para a realização de seus trabalhos.
Segue o Artigo 1º: a Comissão será criada “(…) com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas (…)”. Praticadas por quem? Será que já não é evidente para a história do país que houve uma grave e violenta ditadura no país? Por que não consta do Projeto as palavras “responsável” ou “responsabilidade”?
Bem, talvez o Estado ditatorial não tenha sido nomeado para que o restante do artigo esclareça a questão da responsabilidade. Retornemos à leitura do Artigo 1º: “(…) praticadas no período fixado no Artigo 8º. do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (…)”. O que será este Ato? Seu teor diz: “É concedida anistia aos que, no período de 18 de setembro de 1946 até a data da promulgação da Constituição (ou seja, 1988), foram atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente política, por atos de exceção, institucionais ou complementares (…)” (grifos e comentário nossos). Como assim? A ditadura não foi de 1964 a 1985 (ou 1988, se a referência for a nova Constituição; ou ainda, 1989, se for a primeira eleição direta para presidente)? Então, quais violações de direitos humanos serão examinadas e esclarecidas entre 1946 e 1988?
Segundo documento do Ministério Público Federal (“Nota Técnica sobre o Projeto de Lei que cria a Comissão Nacional da Verdade”, de abril de 2011), “tal enfoque amplia demasiadamente o objeto da Comissão”, com “um risco de que a Comissão perca o foco”. O documento do Ministério Público informa que o Artigo 8º. do Ato é um dispositivo que “estipulou normas diversas (…) , pois o resultado final era o mesmo: anistia para perseguidos políticos, independente da natureza da perseguição”. Novamente, parece que o desejo de conhecer a história do país está sendo escamoteado.
O Artigo 1º do Projeto do governo continua: a Comissão irá “examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos (…) a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional” (grifo nosso). Qual reconciliação? Ainda vivemos o conflito da época da ditadura? O projeto de lei do governo, este mesmo que anuncia o Brasil como uma democracia consolidada e de economia forte, está dizendo que as relações entre civis e militares ainda existem? Que há algo de autoritário no Estado de Direito?
Resta algo da ditadura em nossa democracia que surge na tutela militar da política e expõe uma indistinção entre o democrático e o autoritário no estado de direito. A violência originária de determinado contexto político mantém-se seja nos atos de tortura ainda praticados nas delegacias, seja na suspensão dos atos de justiça contida no simbolismo da anistia, aceita pelas instituições do Estado como recíproca, agindo em favor das vítimas e dos opositores, bem como dos torturadores.
A memória dos anos de repressão política, por terem sido silenciados nos debates da transição, delimita um lugar inaugural de determinada política, cria valores herdados na cultura e que permanecem, tanto objetivamente, quanto subjetivamente, subtraídos dos cálculos da razão política. Se alguns países latino-americanos dedicam-se à criação de novos investimentos em direitos humanos, o Brasil mantem-se como modelo de impunidade e não segue sequer a política da verdade histórica.
Houve aqui uma grande ditadura, mas os arquivos do regime de exceção não foram abertos, não apuraram as circunstâncias dos crimes e a localização dos desaparecidos.
Merecedor de nota foi o casuísmo no trâmite do projeto da Comissão da Verdade apresentado ao Congresso Nacional, em maio de 2010, dois dias antes de iniciar o julgamento do Estado brasileiro na Corte Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA). Neste processo, o Brasil foi condenado a apurar as circunstâncias dos assassinatos e tortura de militantes da Guerrilha do Araguaia (1972-1975), localizar os corpos desaparecidos e punir os responsáveis por tais crimes. Da mesma maneira casuística temos hoje a necessidade urgentíssima de aprovação do Projeto que ocorre próximo à reunião da Corte da OEA, momento em que será avaliado se a sentença está sendo cumprida; e, não menos intrigante, simultâneo ao discurso da presidente Dilma Rousseff na ONU.
As ambiguidades do projeto de lei do governo constituem bloqueios da política e da justiça e demonstram a urgência da participação da sociedade civil na formulação de qual Comissão teremos e de quanta verdade o Brasil suporta.
***
Edson Teles é doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), é professor de filosofia política na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Pela Boitempo, organizou com Vladimir Safatle a coletânea de ensaios O que resta da ditadura: a exceção brasileira (2010).

Herdeiros dos Farroupilhas

Somos gaúchos, gauchos desta pampa
pobre, herdeiros legítimos
daqueles que levantaram
a sua voz e suas lanças
contra a tirania do império

Em nossas veias correm
o sangue da bravura
da valentia dos combatentes
anônimos  heróicos farroupilhas

Não estamos nos CTGs
(Centros de Tradições Gaúchas), nas
festas oficiosas, como o nome dos
nossos antepassados que
derramaram o seu sangue
bravura, pela liberdade de
nossa querência
não estão nos livros
de história sem cor da burguesia

Mas estamos no campo produzindo
pão, cuidando gado do patrão
nas fábricas, nos portos, nas escolas
nas ruas, esquinas, acampamentos
em busca de terra e trabalho
para viver

Assim, nós herdeiros farroupilhas
da coragem e valentia, de Anita e Giuseppe Garibaldi
Bento Gonçalves, Antônio de Souza Neto, dos lanceiros Negros
e de tantos outros heróis, fomos condenados
a viver anônimos, nesta terra
que tanto amamos

enquanto damos a nossa força de trabalho
os herdeiros da tirania vivem como
viviam os seus antepassados
explorando e em boa vida
Mas virá o momento em que
nós nos levantaremos do chão
e de nossa humilhação, pegaremos
a herança deixada por nossos pais e deixaremos de
ser explorados
Queremos o que é nosso, ter em
nossas mãos a terra, a produção
e as riquezas da nação que está em poucas mãos

E construiremos aqui no
Rio Grande do Sul do novo milênio
uma terra livre a onde a
" Igualdade, Fraternidade, Liberdade"
serão a verdadeira realidade
Que serão construídas pelas mãos
obreiras dos trabalhadores do
campo e da cidade
que são os verdadeiros herdeiros farroupilhas.
( Júlio Lázaro Torma)
Colaborador deste blog

terça-feira, 20 de setembro de 2011

VERGONHA: Assembleia vota nesta terça-feira venda das ações da Casan em Santa Catarina

 
  

No Brasil também as massas devem se levantar

Após a queda de Palocci do Ministério da Casa Civil e de Alfredo Nascimento da pasta dos transportes, além do rebaixamento (foi este o propósito) de Luiz Sérgio das Relações Institucionais para o Ministério da Pesca e Aquicultura, a crise política, longe de esfriar, estendeu-se a outros departamentos, indicando não ter data para findar.
No início de agosto, o boquirroto Nelson Jobim, investido por Luiz Inácio no Ministério da Defesa e lá permanecendo por sua imposição, foi devidamente defenestrado após declarações "deselegantes" sobre as ministras Gleisi Hoffman e Ideli Salvatti. Ou melhor, teria sido esta a causa mais aparente...
Em seguida foi revelado um fragoroso esquema de corrupção no Ministério da Agricultura, notadamente na Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Wagner Rossi (do PMDB) cambaleou no cargo por vários dias, até que entregou a carta de demissão, sendo "velado com honras de Estado" pelos "bons serviços prestados" e blá, blá, blá.
De quebra, uma operação da Polícia Federal prendeu, entre outras 36 pessoas, o secretário executivo (2º na hierarquia) do Ministério do Turismo, e destampou outro esquema que envolvia liberação de milhões de reais em recursos para ONGs, principalmente em Roraima. A mamata envolvia também uma deputada federal, responsável pelas emendas ao orçamento que liberavam as verbas e que mesmo com evidências de que embolsava boa parte dela, não foi presa.
No congresso, a baixa para a "base aliada" foi o PR, que declarou independência por não conseguir a mesma atenção de Dilma que obtém os caciques peemedebistas. A tais ameaças ela respondeu com muito prazenteio e blandícia às hostes peessedebistas paulistas, numa rasgação de seda só.
Entretanto, Dilma administrava intensa dança das cadeiras para acomodar interesses de grupos de poder não apenas dos partidos "aliados", mas também, e talvez principalmente, do próprio PT. A revista Veja, por exemplo, montou uma trampa cinematográfica para pilhar José Dirceu e seus visitadores, praticando tráfico de influências, arranjos financeiros, articulações, composições, etc. e segundo a revista, intrigas contra o governo. São horas de reuniões em um hotel de Brasília com figurões de nossa república de fancaria.
Para muitos, principalmente os analistas políticos assalariados do monopólio dos meios de comunicação e inclusive alguns editorialistas, Dilma promove uma faxina na "herança maldita" deixada por Luiz Inácio, caracterizada pela corrupção transbordante e na ineficiência desta ou daquela repartição pública. Alardeiam sua preferência por "perfis técnicos" para recompor os cargos, mas não ignoram que essa é apenas a desculpa utilizada por Dilma para manejar sua "governabilidade".
Tal como Veja, outros veículos do monopólio exaltam que "Dilma está no caminho certo", aplausos que mais soam dar balizamento e linha à gerência do velho Estado. Afinal, pelas páginas e transmissões de quem ficamos sabendo dos sucessivos e cada vez mais milionários escândalos?
Ainda que seja realista reconhecer que o gerenciamento petista e seus sequazes têm batido recordes em bandalheiras e corrupção de todo tipo, os estrondos midiáticos querem fazer crer que foi este quem inaugurou essa prática. Nem foi o PT o pioneiro, nem são estes seus mais graves crimes e de sua corte de safados e oportunistas de toda laia. Tais crimes vão muito além da indecente locupletação às expensas do erário nacional, pois que mais medonha e desalmada. É a continuação cínica e medíocre da, de sempre, espoliação e saqueio malditos da Nação, do suor e esperança de nosso laborioso povo. Cínica, porque encoberta pelo véu oprobrioso do esmolamento dos despossuídos, a que douram como distribuição de renda e ascensão social. Medíocre, porque, como pretensos inovadores, não passam de epígonos do populismo fascistóide de antanho. Pior que isto, como se já não fosse demais, são arquitetos e êmulos do seu agravamento.
Mas é, precisamente, a subserviência e o entreguismo o denominador comum, a base sobre a qual descansa o "de acordo" entre nossos corruptos de plantão e seus acusadores vestais da ética e "heróis da liberdade de imprensa".
No país da imundície descaradamente assumida, escândalos de corrupção não chegam mais a parecer novidade, apesar de render muito alvoroço. Contudo, o lodaçal a que se referem esses meios não é monopólio dos hospedeiros de turno das arcas do Estado. É, sim, de todas as instituições dos chamados três poderes sem exceção alguma. É de toda política oficial no seu sentido lato, é de todo o Sistema de Governo, é doença endêmica do Sistema de Poder, enfim.
Porém que, sob o monturo da política oficial, algo mais agudo se agita. E o que tem vindo à superfície é somente supuração. Corre luta surda e feroz entre os grupos de poder do próprio PT.
Desde que se alçou ao topo do aparato estatal, o PT aninhou a principal representação das classes dominantes domésticas serviçais do imperialismo e assim as contradições e pugnas de suas frações. Seja por conservar o controle do aparelho do Estado ou por desalojar aquele que o detenha, são inevitáveis e sistemáticas as pugnas dos grupos de poder, transitando de momentos de calmaria a tempos de tormentas. Nas vésperas dos pleitos eleitorais ocorre de se agudizar. Mais ainda quando uma crise mundial incomum como a atual, cujo custo se descarrega sobre as massas e países dominados, a rinha das frações pelo botim se agrava e pode vir a ser questão de vida e morte. E o entrevero, as estocadas e golpes letais se dão entre seus correspondentes grupos de poder.
Claro sintoma de um cenário desses, para citar dos mais inofensivos, foi a rejeição por Dilma de todos os nove nomes indicados pelo diretório do PT do Rio de Janeiro para cargos federais, inclusive diretorias de empresas estatais quase desconhecidas, mas que contam com grande orçamento. À limpa feita por Dilma dos, sabidos por todos, prepostos de José Dirceu no setor dos bancos públicos, ele respondeu entregando na bandeja a cabeça do velho rival Palocci. Não diferente disso foi a sorte de outros ministros. No caso particular dos Transportes, resultou num torpedeamento de, talvez, um dos mais importantes esquemas de propinas que, montados desde 2003, denota formar respeitável caixa-forte. Aí, tudo indica que o dito jogou para golpear peixe muito maior.
Esse é o terreno pantanoso por onde Dilma circula, aquinhoando uns, desprestigiando outros, cercada de grandes abutres, urubus e quem-quéns*, e não conseguindo unidade nem mesmo no PT por conta do voraz apetite dos seus grupos de poder. Mas isso não significa que ela seja inocente ou coisa semelhante, ao contrário, ela é peça mestra de um desses grupos. Dilma sabe muito mais que muita gente onde está metida e a quem serve.
Em meio de um seríssimo agravamento da crise mundial, que não tem permitido percepção razoável de seus limites e que impactará sobremaneira o país, a contenda pelo controle do aparelho de Estado já está se agudizando. A luta entre os grupos de poder, tanto por definir que política seguirá se aplicando de modo a beneficiar-se ao máximo em tempo de apertos, quanto sobre seus destinos no vindouro pleito eleitoral municipal, já passou dos primeiros rounds. A queda de tantos ministros em seis meses de gerência não é reforma de ministério ou coisa que o valha, é crise política mesmo.
E será bruta! Para Luiz Inácio, apesar da fama, muita água já se vai por baixo da ponte. Dilma será cada vez menos o mero mandato tampão de seus planos. E José Dirceu, com o controle que detém da máquina do PT e caixa reforçado, está jogando grandes cartadas para limpar o caminho de seu retorno e a posto alto.
No agravamento da crise, a democracia revolucionária deve empenhar todos os esforços para revelar toda essa podridão às massas indo além do alarido da corrupção, mobilizá-las e educá-las no repúdio a toda essa velha politicalha e a se levantar em rebelião. Em todo mundo está soando a hora de grandes batalhas! 
___________________

*Quem-quém – Conhecida entre os camponeses como a ave puxa-saco. Seu piado análogo a quem-quem (onomatopeia), alerta os fazendeiros da chegada de alguém.

AND

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Marx tem a chance de salvar a economia mundial

 
O espírito de Marx, que está enterrado em um cemitério perto de onde eu vivo no norte de Londres, saiu da sepultura por causa da crise financeira e da recessão econômica subsequente.
 
Líderes políticos lutam para entender a avalanche de pânico financeiro, protestos e outros males que afligem o mundo fariam bem em estudar o trabalho de um economista que morreu há muito tempo, Karl Marx. Quanto mais cedo nós reconhecermos que estamos enfrentando uma grande crise do capitalismo, o mais bem equipado para gerenciar um caminho para sair da crise será aquele que conhecer esses detalhes. O espírito de Marx, que está enterrado em um cemitério perto de onde eu vivo no norte de Londres, saiu da sepultura por causa da crise financeira e da recessão econômica subsequente.
A análise profunda do filósofo mais sábio do capitalismo tem várias de falhas, mas a economia global de hoje apresenta muitas semelhanças misteriosas com as condições que ele tinha antecipado. Vejamos, por exemplo, a previsão de Marx de que o conflito inerente entre capital e trabalho se manifestaria inevitavelmente. Como escreveu em "Das Kapital", a busca das empresas por benefícios de produtividade, é claro, leva a necessidade de menos trabalhadores, levando à criação de um "exército de reserva" dos pobres e desempregados: "A acumulação de riqueza num pólo é, portanto, ao mesmo tempo, acumulação de miséria" Marx descreve o processo que é visível em todo o mundo desenvolvido, particularmente nos esforços das empresas dos EUA para reduzir custos e evitar a contratação. Os lucros corporativos aumentaram como parte da produção econômica total no nível mais alto em mais de seis décadas, enquanto a taxa de desemprego foi de 9,1% e os salários reais estão estagnados. A desigualdade de renda nos Estados Unidos, entretanto, atingiu seu nível mais alto desde 1920. Antes de 2008, a disparidade de renda foi obscurecida por fatores como crédito fácil, que permitiram às famílias pobres desfrutarem de um estilo de vida semelhante ao dos mais ricos. Agora o problema é voltar para casa para descansar.
O paradoxo do excesso de produção
Marx também notou o paradoxo do excesso de produção e baixo consumo: quanto mais trabalhadores são relegados à pobreza, menos serão capazes de consumir todos os bens e serviços que as empresas produzem. Quando uma empresa reduz seus custos para aumentar a receita, é sábio para maximizar os lucros, mas quando o fazem todas as empresas, ao mesmo tempo, prejudicam a distribuição de renda e demanda efetiva para aqueles que dependem da renda e salário. Este problema também é evidente no mundo desenvolvido de hoje. Temos uma capacidade substancial de produzir, mas nas áreas de média e baixa renda, encontramos uma insegurança financeira generalizada e baixas taxas de consumo. O resultado é visível nos Estados Unidos, onde as vendas no setor da construção e as vendas de automóveis ainda são cerca de 75% e 30% abaixo de seus picos de 2006, respectivamente. Como dizia Marx em O Capital: "A razão última para todas as crises reais é sempre a pobreza e o consumo restrito das massas"

George Magnus é economista-chefe do banco suíço USB.
 

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