segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ricardo Boechat e a Favela Pinheirinho.wmv



Caros,
recomendo o áudio com os comentários do jornalista Ricardo Boechat sobre o processo truculento de despejo dos trabalhadores da favela Pinheirinho.

Vale a pena perder alguns minutos para ouvir esses comentários.

Que a crítica do Boechat seja um incentivo para que não tenhamos medo de ir às ruas para defender a vida com o mínimo de dignidade e a verdade como norteador de nossas ações, verdade essa, tão pisoteadas por homens e governos de hoje!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Massacre do Pinheirinho - O Filme



  A lógica do dinheiro grosso contra o povo miúdo


Qual o sentido em se despejar violentamente cerca de 1.660 famílias pobres, que já estão construindo suas casas, que mal ou bem abrigam-se sob um teto e erguem uma comunidade, para depois cadastrá-las nas intermináveis filas dos programas de habitação social que para atendê-las terão que adquirir ou desapropriar glebas, viabilizar projetos, contratar obras até, finalmente, um dia –- se é que essa dia chegará -– devolver um chão e alguma esperança de cidadania a essa gente?
Mas, sobretudo, qual o sentido dessa enorme volta em falso quando o único beneficiário da ação policial violenta contra a ocupação de ‘Pinheirinho’, em São José dos Campos (SP), chama-se Naji Nahas?
Dono do terreno, com dívidas de R$ 15 milhões junto à prefeitura local, Nahas é um especulador notório, preso em julho de 2008 pela Polícia Federal, na operação Satiagraha, junto do não menos notório banqueiro Daniel Dantas, ambos acusados de desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro.
Qual o sentido do ‘desencontro’ entre o manifesto desejo de um acordo favorável aos moradores de ‘Pinheirinho’, expresso pelo governo federal, e a engrenagem política-judicial repressiva e desastrada do governo paulista? Qual o sentido? O sentido é justamente esse, apenas esse: a supremacia do dinheiro grosso contra o povo miúdo.
(Carta Maior; 2ª feira; 23/12/ 2012)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fórum Social Temático 2012

 Nos dias 24 á 29 de Janeiro de 2012, estará ocorrendo em Porto Alegre ( RIS),e região metropolitana, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo, o Fórum Social Temático ( FST 2012).
  O Fórum Social Temático 2012, tem como tema:" Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental", em preparação a Cúpula dos Povos na Rio +20.
  O F S T deste ano irá reunir militantes dos movimentos sociais urbanos e rurais, feministas,religiosos,povos indígenas, ambientalistas e intelectuais que irão discutir alternativas a crise global, a crise capitalista que tem atingido a humanidade e toda a criação, a vida no planeta.
  Estamos vivendo nos últimos anos a maior crise econômica, desde 1929 com o crack da Bolsa de Valores de Nova York.Atual crise econômica que está atingindo o mundo é maior e será duradoura.
  Onde segundo analistas a atual crise poderá durar os próximos cinqüenta anos.Ela vem acompanhada por três outras crises que são a climática, alimentar e finaceira.
  A crise climática vem sendo denunciada desde 2007, através do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas ( IPCC), ter alertado para a urgência na transição de baixo carbono; alta dos preços das commodities e dos alimentos pela especulação pelos grandes das finanças.
  A Crise financeira mundial que tem arrastado os países gerando o aumento do desemprego, pobreza e miséria em escala global.O que tem gerado políticas repressivas dos governos em cima das populações em defesa do capitalismo transnacional.
  Tal situação gerado por uma civilização centrada no lucro, consumismo.Onde a felicidade e o ideal de felicidade está nos bens ostentatórios, criados na lógica da obsolescência privada, planejada, uso privado, desperdício e descartabilidade.
  Que consumem mais recursos, energia, matérias primas e alimentos, gerado e agravando mais crises.
  Onde o capital engana com a criação de novas tecnologias que resolverão os problemas gerados pelo próprio capitalismo.
  Onde são feitas para que nenhuma ameaça ao capitalismo possa florescer, a democracia é corrompida pelo poder do dinheiro ou suprimida.
  Diante deste quadro tem florescido atos de indignação pelo mundo, como as manifestações indígenas nos Andes,dos estudantes chilenos.Bem como a Primavera Árabe, os indignados na Europa e os " Occupy América" ou " Occupy Wall Street".
  O F.S.T é o encontro de todos e todas indignados e indignadas, que lutam, sonham e constroem " um outro mundo possível" ou " um mundo em que caibam outros mundos".
  Onde não haja excluidos e excludentes, em que não gira pela lógica do dinheiro e do consumismo desenfreado, que está fazendo com o que o planeta se converta num grande shopping center.
  Onde estamos todos ricos e pobres, bem como os outros seres do planeta rumo a sua destruição.
  Queremos construir um outro mundo possível e necessário, para as gerações futuras, onde haja de fato respeito e a conservação  da vida e dos bens do planeta, que todos tenham acesso a uma vida digna e de qualidade, respeitando o ambiente em que vive.
  O Fórum Social Temático 2012 é a reafirmação da Esperança e a continuação dos protestos contra o G 20 em Novembro de 2011 em Paris, COP 17 em Durban na África do Sul e em preparação a Cúpula dos Povos do Rio+20, onde mostraremos aos governos e aos donos do mundo reunidos no RIO+20 a nossa indignação.
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Por: Júlio Lázaro Torma*
Colaborador deste blog
* Membro da Equipe da Pastoral Operária ( Arquidiocese de Pelotas / RS)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

HIDROPIRATARIA NO RIO AMAZONAS

Na foto acima um dos navios da empresa transporta pelo oceano um gigantesco “bag” de água doce

Navio tanque
É assustador o tráfico de água doce no Brasil. A denúncia está na revista jurídica Consulex 310, de dezembro do ano passado, num texto sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o mercado internacional de água. A revista denuncia: “Navios-tanque estão retirando sorrateiramente água do Rio Amazonas”. Empresas internacionais até já criarem novas tecnologias para a captação da água. Uma delas, a Nordic Water Supply Co., empresa da Noruega, já firmou contrato de exportação de água com essa técnica para a Grécia, Oriente Médio, Madeira e Caribe.
Conforme a revista, a captação geralmente é feito no ponto que o rio deságua no Oceano Atlântico. Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa e Oriente Médio. Diz a revista ser grande o interesse pela água farta do Brasil, considerando que é mais barato tratar águas usurpadas (US$ 0,80 o metro cúbico) do que realizar a dessalinização das águas oceânicas (US$ 1,50).
Há trás anos, a Agência Amazônia também denunciou a prática nefasta. Até agora, ao que se sabe nada de concreto foi feito para coibir o crime batizado de hidropirataria. Para a revista Consulex, “essa prática ilegal, no então, não pode ser negligenciada pelas autoridades brasileiras, tendo em vida que são considerados bens da União os lagos, os rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seus domínio (CF, art. 20, III).
Outro dispositivo, a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, atribui à Agência Nacional de Águas (ANA), entre outros órgãos federais, a fiscalização dos recursos hídricos de domínio da União. A lei ainda prevê os mecanismos de outorga de utilização desse direito. Assinado pela advogada Ilma de Camargos Pereira Barcellos, o artigo ainda destaca que a água é um bem ambiental de uso comum da humanidade. “É recurso vital. Dela depende a vida no planeta. Por isso mesmo impõe-se salvaguardar os recursos hídricos do País de interesses econômicos ou políticos internacionais”, defende a autora.
Segundo Ilma Barcellos, o transporte internacional de água já é realizado através de grandes petroleiros. Eles saem de seu país de origem carregados de petróleo e retornam com água. Por exemplo, os navios-tanque partem do Alaska, Estados Unidos – primeira jurisdição a permitir a exportação de água – com destino à China e ao Oriente Médio carregando milhões de litros de água.
Nesse comércio, até uma nova tecnologia já foi introduzida no transporte transatlântico de água: as bolsas de água. A técnica já é utilizada no Reino Unido, Noruega ou Califórnia. O tamanho dessas bolsas excede ao de muitos navios juntos, destaca a revista Consulex. “Sua capacidade [a dos navios] é muito superior à dos superpetroleiros”. Ainda de acordo com a revista, as bolsas podem ser projetadas de acordo com necessidade e a quantidade de água e puxadas por embarcações rebocadoras convencionais.
Biopirataria e roubo de minérios
Há seis anos, o jornalista Erick Von Farfan também denunciou o caso. Numa reportagem no site eco21 lembrava que, depois de sofrer com a biopirataria, com o roubo de minérios e madeiras nobres, agora a Amazônia está enfrentando o tráfico de água doce. A nova modalidade de saque aos recursos naturais foi identificada por Farfan de hidropirataria. Segundo ele, os cientistas e autoridades brasileiras foram informadas que navios petroleiros estão reabastecendo seus reservatórios no Rio Amazonas antes de sair das águas nacionais.
Farfan ouviu Ivo Brasil, Diretor de Outorga, Cobrança e Fiscalização da Agência Nacional de Águas. O dirigente disse saber desta ação ilegal. Contudo, ele aguarda uma denúncia oficial chegar à entidade para poder tomar as providências necessárias. “Só assim teremos condições legais para agir contra essa apropriação indevida”, afirmou.
O dirigente está preocupado com a situação. Precisa, porém, dos amparos legais para mobilizar tanto a Marinha como a Polícia Federal, que necessitam de comprovação do ato criminoso para promover uma operação na foz dos rios de toda a região amazônica próxima ao Oceano Atlântico. “Tenho ouvido comentários neste sentido, mas ainda nada foi formalizado”, observa.
Águas amazônicas
Segundo Farfan, o tráfico pode ter ligações diretas com empresas multinacionais, pesquisadores estrangeiros autônomos ou missões religiosas internacionais. Também lembra que até agora nem mesmo com o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) foi possível conter os contrabandos e a interferência externa dentro da região.
A hidropirataria também é conhecida dos pesquisadores da Petrobrás e de órgãos públicos estaduais do Amazonas. A informação deste novo crime chegou, de maneira não oficial, ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), órgão do governo local. “Uma mobilização até o local seria extremamente dispendiosa e necessitaríamos do auxílio tanto de outros órgãos como da comunidade para coibir essa prática”, reafirmou Ivo Brasil.
A captação é feita pelos petroleiros na foz do rio ou já dentro do curso de água doce. Somente o local do deságüe do Amazonas no Atlântico tem 320 km de extensão e fica dentro do território do Amapá. Neste lugar, a profundidade média é em torno de 50 m, o que suportaria o trânsito de um grande navio cargueiro. O contrabando é facilitado pela ausência de fiscalização na área.
Essa água, apesar de conter uma gama residual imensa e a maior parte de origem mineral, pode ser facilmente tratada. Para empresas engarrafadoras, tanto da Europa como do Oriente Médio, trabalhar com essa água mesmo no estado bruto representaria uma grande economia. O custo por litro tratado seria muito inferior aos processos de dessalinizar águas subterrâneas ou oceânicas. Além de livrar-se do pagamento das altas taxas de utilização das águas de superfície existentes, principalmente, dos rios europeus. Abaixo, alguns trechos da reportagem de Erick Von Farfan:
Hidro ou biopirataria?
O diretor de operações da empresa Águas do Amazonas, o engenheiro Paulo Edgard Fiamenghi, trata as águas do Rio Negro, que abastece Manaus, por processos convencionais. E reconhece que esse procedimento seria de baixo custo para países com grandes dificuldades em obter água potável. “Levar água para se tratar no processo convencional é muito mais barato que o tratamento por osmose reversa”, comenta.
O avanço sobre as reservas hídricas do maior complexo ambiental do mundo, segundo os especialistas, pode ser o começo de um processo desastroso para a Amazônia. E isto surge num momento crítico, cujos esforços estão concentrados em reduzir a destruição da flora e da fauna, abrandando também a pressão internacional pela conservação dos ecossistemas locais.
Entretanto, no meio científico ninguém poderia supor que o manancial hídrico seria a próxima vítima da pirataria ambiental. Porém os pesquisadores brasileiros questionam o real interesse em se levar as águas amazônicas para outros continentes. O que suscita novamente o maior drama amazônico, o roubo de seus organismos vivos. “Podem estar levando água, peixes ou outras espécies e isto envolve diretamente a soberania dos países na região”, argumentou Martini.
A mesma linha de raciocínio é utilizada pelo professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná, Ary Haro. Para ele, o simples roubo de água doce está longe de ser vantajoso no aspecto econômico. “Como ainda é desconhecido, só podemos formular teorias e uma delas pode estar ligada ao contrabando de peixes ou mesmo de microorganismos”, observou.
Essa suposição também é tida como algo possível para Fiamenghi, pois o volume levado na nova modalidade, denominada “hidropirataria” seria relativamente pequeno. Um navio petroleiro armazenaria o equivalente a meio dia de água utilizada pela cidade de Manaus, de 1,5 milhão de habitantes. “Desconheço esse caso, mas podemos estar diante de outros interesses além de se levar apenas água doce”, comentou.
Segundo o pesquisador do Inpe, a saturação dos recursos hídricos utilizáveis vem numa progressão mundial e a Amazônia é considerada a grande reserva do Planeta para os próximos mil anos. Pelos seus cálculos, 12% da água doce de superfície se encontram no território amazônico. “Essa é uma estimativa extremamente conservadora, há os que defendem 26% como o número mais preciso”, explicou.
Em todo o Planeta, dois terços são ocupados por oceanos, mares e rios. Porém, somente 3% desse volume são de água doce. Um índice baixo, que se torna ainda menor se for excluído o percentual encontrado no estado sólido, como nas geleiras polares e nos cumes das grandes cordilheiras. Contando ainda com as águas subterrâneas. Atualmente, na superfície do Planeta, a água em estado líquido, representa menos de 1% deste total disponível.
Água será motivo de guerra
A previsão é que num período entre 100 e 150 anos, as guerras sejam motivadas pela detenção dos recursos hídricos utilizáveis no consumo humano e em suas diversas atividades, com a agricultura. Muito disto se daria pela quebra dos regimes de chuvas, causada pelo aquecimento global. Isto alteraria profundamente o cenário hidrológico mundial, trazendo estiagem mais longas, menores índices pluviométricos, além do degelo das reservas polares e das neves permanentes.
Sob esse aspecto, a Amazônia se transforma num local estratégico. Muito devido às suas características particulares, como o fato de ser a maior bacia existente na Terra e deter a mais complexa rede hidrográfica do planeta, com mais de mil afluentes. Diante deste quadro, a conclusão é óbvia: a sobrevivência da biodiversidade mundial passa pela preservação desta reserva.
Mas a importância deste reduto natural poderá ser, num futuro próximo, sinônimo de riscos à soberania dos territórios panamazônicos. O que significa dizer que o Brasil seria um alvo prioritário numa eventual tentativa de se internacionalizar esses recursos, como já ocorre no caso das patentes de produtos derivados de espécies amazônicas. Pois 63,88% das águas que formam o rio se encontram dentro dos limites nacionais.
Esse potencial conflito é algo que projetos como o Sistema de Vigilância da Amazônia procuram minimizar. Outro aspecto a ser contornado é a falta de monitoramento da foz do rio. A cobertura de nuvens em toda Amazônia é intensa e os satélites de sensoriamento remoto não conseguem obter imagens do local. Já os satélites de captação de imagens via radar, que conseguiriam furar o bloqueio das nuvens e detectar os navios, estão operando mais ao norte.
As águas amazônicas representam 68% de todo volume hídrico existente no Brasil. E sua importância para o futuro da humanidade é fundamental. Entre 1970 e 1995 a quantidade de água disponível para cada habitante do mundo caiu 37% em todo mundo, e atualmente cerca de 1,4 bilhão de pessoas não têm acesso a água limpa. Segundo a Water World Vision, somente o Rio Amazonas e o Congo podem ser qualificados como limpos.
Por: http://molinacuritiba.blogspot.com

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Veja balanço da Reforma Agrária em 2011 feita pela CPT

Confira a análise feita pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) Nordeste II sobre a Reforma Agrária no ano de 2011

CPT


O ano de 2011 deixa enormes desafios para 2012, pois as baixas perspectivas só irão melhorar com muita luta do povo do campo e das suas entidades de classe. Em 2012 completará 50 anos da morte do líder das ligas camponesas, João Pedro Teixeira. Ele foi “um cabra marcado pra morrer" por sua luta em defesa da Reforma Agrária. Hoje, a depender do Estado brasileiro, e de todos os que o governam ou que dele se beneficiam, a Reforma Agrária também está "marcada pra morrer".

O início de 2011 foi marcado pela perspectiva de que o governo da Presidenta Dilma pudesse percorrer o caminho para superar os desafios e impasses históricos da Reforma Agrária no Brasil. Com o apoio da maioria no Congresso Nacional, a nova Presidenta teria, nesse campo estratégico, condições políticas para impulsionar um processo de Reforma Agrária, o que nunca foi feito no Brasil.

Apesar dessas legítimas expectativas, o que se configurou na prática foi que o Estado brasileiro direcionou toda a sua energia para garantir o avanço de um modelo ultrapassado de desenvolvimento para o país, com um perfil concentrador de renda, prejudicial ao meio-ambiente e às populações tradicionais.

De fato, as diretrizes política e econômica do governo são as mesmas do grande capital. Como consequência desta opção, os maiores impactados foram os trabalhadores e trabalhadoras rurais, as comunidades tradicionais, indígenas, posseiros, ribeirinhos, toda a diversidade de povos que vivem no campo brasileiro e a mãe Terra.

De um lado, isso reflete uma violência e o abandono do povo excluído. Do outro, tem provocado um momento de retomada de mobilizações e independência dos pequenos, frente à traição de quem julgavam ser aliados. Essa importante retomada vem acontecendo em toda América Latina.

No Brasil, a obsessão do Governo da Presidenta Dilma pela implantação de grandes projetos e pela produção ilimitada de commodities tem levado as populações tradicionais, indígenas e camponeses a retomarem seus originais métodos de protesto. Exemplo emblemático disto é o debate em torno da Hidroelétrica de Belo Monte e do Código Florestal.

A Reforma Agrária agoniza

Os números da Reforma Agrária deste governo, em relação às famílias assentadas, foram ainda piores do que o primeiro ano do governo anterior. Em 2011, somente 6.072 famílias foram assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O número é pífio e insignificante diante da quantidade de famílias acampadas que se encontram do outro lado das cercas do latifúndio do agronegócio. De acordo com estimativas do próprio Incra, existem aproximadamente 180 mil famílias debaixo da lona preta em todo o país.

De um lado, o número insignificante de desapropriações. Do outro, um imenso contingente de famílias sem terras. Esta realidade se choca com outra: a da grande disponibilidade de terras improdutivas e devolutas no país. Os dados oficiais mostram que mais de dois terços das propriedades de grande e médio porte não cumprem com sua função social. Terras improdutivas, assim como as devolutas, deveriam ser destinadas imediatamente para fins de Reforma Agrária, no entanto já possuem um destino definido: o agro-hidronegócio e os projetos de desenvolvimento.

Mesmo nas áreas de assentamentos, continuou faltando política de Estado. Neste cenário de total ausência de incentivo à agricultura camponesa, muitas famílias foram mantidas à mercê do capital, de seus interesses e de seus instrumentos de controle e de exploração. Nas regiões de monocultivo da cana-de-açúcar, por exemplo, as Usinas ocupam o vácuo deixado pelo Estado e se apropriam do território camponês, oferecendo financiamento, infraestrutura e assistência técnica às famílias, tornando-as reféns da lógica definida pelo modelo de produção do agronegócio.

Por outro lado, o Governo não mediu esforços para garantir o avanço do agronegócio e do latifúndio, principalmente sob áreas tradicionalmente ocupadas por camponeses e camponesas. Um dos exemplos mais marcantes aconteceu em maio, quando a presidenta Dilma assinou de uma única vez, o decreto de desapropriação de quase 14 mil hectares na Chapada do Apodí/RN, para implantação do Projeto de irrigação que beneficiará meia dúzia de empresas do agronegócio. Em consequência, serão atingidos e prejudicados milhares de pequenos agricultores que desenvolvem experiências de convivência com o semiárido, reconhecidas internacionalmente.

É espantoso que Lula, em seus últimos anos de governo, não tenha chegado a desapropriar 14 mil hectares para a Reforma Agrária no RN e que Dilma, muito provavelmente, não desaproprie 14 mil hectares para essa finalidade em todo o seu governo. Entretanto, logo no seu primeiro ano de mandato, ela já desapropriou essa grande quantidade de terras para atender ao agronegócio. Além deste caso, vimos também a desapropriação de cerca de 8 mil hectares na região de Assú, também no RN, para a Zona de Processamento de Exportação (ZPEs).

Para os Povos indígenas e quilombolas que travam no dia-a-dia um embate pelo direito a terra, enfrentando a chegada do agronegócio e dos projetos governamentais, não há o que comemorar em 2011. Foram homologadas apenas três terras indígenas, sendo duas no estado do Amazonas e uma no Pará. O Governo não se sensibilizou nem com a situação dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul, em especial os Kaiowá e Guarani, que vivem em conflito com fazendeiros e usineiros da região. Nenhuma ação foi feita para homologação das terras neste estado. No caso das populações descendentes de Zumbi dos Palmares, fora a desapropriação do território da comunidade de Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais, poucos foram os resultados conseguidos frente às reivindicações e resistências das 3,5 mil comunidades quilombolas existentes no Brasil. De todas, apenas 6% tem a titulação de suas terras.

Também em 2011 foi dada a concessão, pelo Ibama, da licença de instalação para a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), o que possibilitou o início das construções na região. Belo Monte é uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a primeira de inúmeras usinas a ser instalada na região Amazônica para beneficiar as grandes mineradoras, devastar a floresta e acabar com a forma de viver dos índios. Com ela, expande-se sobre a floresta o modelo de exploração e degradação planejado há 50 anos pelo grande capital.

Na contramão do que reivindicam as populações tradicionais e os sem terras, o Governo ainda anunciou uma redução do orçamento da Reforma Agrária para 2012. De acordo com o projeto de lei orçamentária previsto para o ano que se avizinha, as ações de obtenção de terras terão uma drástica redução de 28% em relação a 2011 e de 31,2% em relação a 2010. Além disso, a assistência técnica, já inviabilizada pelo Governo nos anos anteriores, ainda sofrerá uma redução de 30% em relação a 2010. Para a implantação de infraestrutura, o orçamento prevê uma perda de 8% em relação a 2011. Já a área da educação sofreu uma perda de quase R$ 55 milhões em comparação a 2009, correspondendo a uma redução de 63% de seu orçamento.

O Retrocesso continuou também na lei. O ano se encerra com mais uma vitória da Bancada Ruralista. A aprovação do Código Florestal no Congresso Nacional ultrapassou as expectativas dos aliados da motoserra no Governo. Com retrocessos históricos, o Código prevê, entre outros exemplos gritantes, a anistia aos desmatadores anteriormente a julho de 2008, no que diz respeito ao dever de recuperação ambiental. Posição esta, aquém do entendimento consolidado até então pelo conservador Poder Judiciário brasileiro.

Como se não bastasse, a Lei complementar de nº 140, no que se refere à gestão ambiental, foi sancionada pela presidenta Dilma no final do ano, sem alardes. Com a aprovação da lei complementar, as competências de gestão ambiental ficam diluídas nos Estados e nos Municípios, que são muito mais vulneráveis a pressões políticas e empresariais.

A nova ameaça de retrocesso em curso é o lobby para um novo Código Mineral, que vem sendo redigido no Governo e no Congresso Nacional, sem o debate e sem a participação da sociedade e das populações diretamente interessadas e que serão atingidas, em sua grande maioria comunidades tradicionais.

Enquanto isso, avançam os grandes projetos de forma truculenta

Em 2011, obras impactantes como a Transposição do Rio São Francisco, a Transnordestina, projetos de mineração, construções de BR's, a especulação imobiliária, obras da Copa, Porto de Suape, a construção da Hidrelétrica de Belo Monte e do Rio Madeira, barragens, além de outros mega-projetos, foram um dos principais causadores de conflitos agrários no país.

Para se ter uma ideia da gravidade desses efeitos sobre as populações tradicionais, no período de janeiro a setembro de 2011, registramos um total de 17 assassinatos de trabalhadores no campo. Destes assassinatos, pelo menos 8 têm ligações com a defesa do meio ambiente, 04 estão relacionados com as comunidades originárias ou tradicionais.

Em Alagoas, ocorreu o avanço do projeto de plantação de Eucalipto por parte do Grupo Suzano, especializado na fabricação de papel e celulose. O Grupo reivindica uma área de 30 mil hectares para viabilizar o investimento. O Governo do Estado já sinalizou positivamente e já tem mapeadas as terras que serão destinadas para a plantação do monocultivo.

Na Paraíba, outro fato emblemático foi o apoio incondicional do Governo para a implementação de uma Fábrica de Cimentos da Empresa Elizabeth em uma área de assentamento no litoral sul do Estado. A área que será ocupada pela Empresa também é reivindicada pelo povo indígena Tabajara.

Em Pernambuco, a Transnordestina atingiu as comunidades camponesas por onde tem passado, desde o Sertão, como o caso do município de Betânia até a Zona da Mata, como as famílias de Fleixeiras, no município de Escada, que resistiram bravamente ao despejo que daria lugar aos trilhos da Ferrovia.

Lutas e Resistência Camponesa em 2011

Os camponeses e as camponesas continuam lutando pela Reforma Agrária e resistindo ao avanço do latifúndio e do agronegócio. Mesmo diante de todas as dificuldades impostas pelo Estado e pelo agronegócio, estes camponeses teimam em reescrever a história. Das 789.542 famílias assentadas nos últimos dez anos, 87% permanecem resistindo e produzindo no campo, sem qualquer tipo de incentivo governamental para a agricultura camponesa.

Apesar da diminuição das ocorrências das ocupações e acampamentos em 2011, aumentou o número de famílias envolvidas nestes conflitos. Este ano, de acordo com os dados parciais da CPT, foram 245.420 pessoas envolvidas no período de janeiro a setembro de 2011, enquanto que no mesmo período de 2010, foram 234.150 pessoas envolvidas.

Registramos em 2011 mais de 350 mobilizações no país, protagonizadas pelos povos do campo. É como se em cada um dos 365 dias do ano, camponeses e camponesas organizados se mobilizassem em defesa da Reforma Agrária, dos direitos dos povos do campo e pelos territórios dos povos originários e de uso comum.
Algumas grandes mobilizações marcaram este ano que se encerra. Em agosto, cerca de 70 mil mulheres camponesas ocuparam as ruas de Brasília, reivindicando seus direitos, durante a Marcha das Margaridas.

Naquele mesmo mês, mais de 4 mil trabalhadores rurais sem terra ligados à Via Campesina montaram acampamento na capital federal, exigindo do Governo o compromisso com a Reforma Agrária. Por sua vez, “Aperte a Mão de Quem te Alimenta”, foi o nome da marcha realizada pelo MLST, de Goiânia até Brasília, e que explicitou a importância da produção agroecológica e da criação de assentamentos para garantir alimentos saudáveis, sem utilização de agrotóxicos.

Mais recentemente, cerca de 15 mil pessoas foram as ruas em Juazeiro e em Petrolina protestar contra a proposta do Governo de construir cisternas de PVC, que vai contra toda a metodologia de relação com o semiárido, construída pelas populações ao longo dos anos.

Além dos trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra, os quilombolas e indígenas também estiveram firmes em suas manifestações em 2011. Durante o mês de maio, os povos indígenas realizaram uma de suas maiores mobilizações, o acampamento Terra Livre, realizado em Brasília e que reuniu centenas de indígenas de mais de 230 povos de todo o país para apresentar suas principais reivindicações. Já no início de novembro, mais de dois mil quilombolas estiveram reunidos em Brasília, quando ocuparam pela primeira vez o Palácio do Planalto durante a Marcha Nacional em Defesa dos Direitos dos Quilombolas.

2012: Marcharemos na Luta pela Reforma Agrária

Apesar do Estado brasileiro e de seus governantes condenarem a Reforma Agrária à morte, ela segue a cada dia pulsando com mais intensidade nas veias dos camponeses e das camponesas, como se ouvissem os ecos do compromisso de Elizabete Teixeira, na ocasião do sepultamento do seu companheiro: "Continuarei a tua luta". Este é o chamado que ecoa para aqueles e aquelas que acreditam e lutam em defesa da vida, da vida plena.

“Eu vim para que todos tenham Vida e Vida em abundância.” (João 10:10)

Comissão Pastoral da Terra - Nordeste II

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A paz mundial pende por um fio (Reflexões de Fidel Castro)

Fidel Castro
Ontem tive o prazer de conversar tranquilamente com Mahmoud Ahmadinejad. Não o via desde setembro de 2006, há mais de cinco anos, quando visitou nossa pátria para participar na 14ª Cúpula do Movimento de Países Não Alinhados que teve lugar em Havana, onde pela segunda vez Cuba foi eleita presidente dessa organização pelo tempo estabelecido de três anos.

Eu tinha ficado gravemente enfermo em 26 de julho de 2006, um mês e meio antes da mesma, e só podia sentar na cama. Vários dos mais distinguidos líderes que assistiam ao evento tiveram a amabilidade de visitar-me. Chávez e Evo o fizeram mais de uma vez. Um meio dia vieram quatro, dos quais sempre recordo: Kofi Annan, secretário-geral da ONU; um velho amigo, Abdelaziz Buteflika, presidente da Argélia; Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã; e um vice-ministro das Relações Exteriores do governo da China e atual chanceler desse país, Yang Jiechi, representando o líder do Partido Comunista e presidente da República Popular da China, Hu Jintao. Foi realmente um momento de importância para mim que com grande esforço reeducava a mão direita que havia sofrido um sério acidente na queda em Santa Clara.
Com os quatro comentei aspectos dos problemas que o mundo enfrentava naqueles instantes. Estes, certamente, tornavam-se cada vez mais complexos.
No encontro de ontem observei o presidente iraniano absolutamente sossegado e tranquilo, indiferente por completo às ameaças ianques, confiante na capacidade de seu povo para enfrentar qualquer agressão e na eficácia das armas, que em grande parte eles próprios produzem, para ocasionar aos agressores um preço impagável.
Na realidade quase não falou do tema bélico, sua mente se concentrava nas ideias expostas na conferência que fez no Salão Nobre da Universidade de Havana, centrada na luta pelo ser humano: "caminhar para chegar e alcançar a paz, a segurança, o respeito e a dignidade humana como um desejo de todos os seres humanos ao longo da história".
Estou seguro de que, por parte do Irã, não se deve esperar ações irrefletidas que contribuam para o desencadeamento de uma guerra. Se esta for inevitavelmente desatada, será fruto exclusivo do aventureirismo e da irresponsabilidade congênita do império ianque.
Da minha parte penso que a situação política criada em torno do Irã e os riscos de uma guerra nuclear que dela emanam e a todos envolve – possuam ou não tais armas –, são sumamente delicados porque ameaçam a própria existência de nossa espécie. O Oriente Médio se converteu na região mais conflitiva do mundo, e a área onde são gerados os recursos energéticos vitais para a economia do planeta.
O poder destrutivo e os sofrimentos massivos que originavam alguns dos meios utilizados na 2ª Guerra Mundial motivaram uma forte tendência a proibir algumas armas como os gases asfixiantes e outras empregadas naquela guerra. Contudo, as lutas de interesses e os enormes lucros dos produtores de armas os levaram à confecção dos armamentos mais cruéis e destrutivos, até que a tecnologia moderna aportou o material e os meios cujo emprego em uma guerra mundial conduziria ao extermínio.
Sustento o critério, sem dúvida compartilhado por todas as pessoas com um sentido elementar de responsabilidade, de que nenhum país grande ou pequeno tem o direito de possuir armas nucleares.
Nunca estas armas deveriam ser usadas para atacar duas cidades indefesas como Hiroshima e Nagasaki, assassinando e irradiando com horríveis e duradouros efeitos centenas de milhares de homens, mulheres e crianças, em um país que já estava militarmente vencido.
Se o fascismo obrigava as potências coligadas contra o nazismo a competir com esse inimigo da humanidade na fabricação de tal arma, finalizada a guerra e já criada a Organização das Nações Unidas, o primeiro dever dessa organização era proibir tal arma sem exceção alguma.
Mas os Estados Unidos, a potência mais poderosa e rica, impôs ao resto do mundo a linha a seguir. Hoje possui centenas de satélites que espionam e vigiam a partir do espaço todos os habitantes do planeta. Suas forças navais, aéreas e terrestres estão equipadas com milhares de armas nucleares, manejam a seu talante, através do Fundo Monetário Internacional, as finanças e os investimentos do mundo.
Se se analisa a história de cada uma das nações da América Latina, desde o México até a Patagônia, passando por São Domingo e Haiti, poderá observar-se que todas, sem uma só exceção, sofreram durante duzentos anos, desde o início do século 19 até hoje, e de uma ou outra forma estão sofrendo cada vez mais, os piores crimes que o poderio e a força podem cometer contra o direito dos povos. Escritores brilhantes surgem em número crescente: um deles, Eduardo Galeano, autor de As veias abertas da América Latina, que fala sobre estes temas, acaba de ser convidado a inaugurar o prestigioso Prêmio Casa das Américas, como um reconhecimento a sua relevante obra.
Os acontecimentos se sucedem con incrível rapidez; mas a tecnologia os transmite ao público de forma ainda mais rápida. Um dia qualquer, como o de hoje, notícias importantes se sucedem com extraordinário ritmo. Um despacho telegráfico datado de ontem (11), dá textualmente a seguinte notícia: "A presidência dinamarquesa da União Europeia afirmou na quarta-feira que uma nova série de sanções europeias mais severas contra o Irã se decidirá em 23 de janeiro em razão de seu programa nuclear, atingindo não só o setor petrolífero mas também o banco central.
'Iremos mais longe simultaneamente no que se refere às sanções petrolíferas e contra as estruturas financeiras', disse o chefe da diplomacia dinamarquesa Villy Soevndal, durante um encontro com a imprensa estrangeira". Pode apreciar-se com clareza que, a fim de impedir a proliferação nuclear, Israel pode acumular centenas de ogivas nucleares enquanto o Irã não pode produzir urânio enriquecido a 20%.
Outra notícia sobre o tema, de uma conhecida e qualificada agência informativa britânica, informa que: "A China não deu sinais na quarta-feira de ceder terreno às demandas dos Estados Unidos de que reduza suas compras de petróleo iraniano e considerou um excesso as sanções de Washington contra Teerã...".
Qualquer pessoa se assombraria com a tranquilidade com que os Estados Unidos e a civilizada Europa promovem esta campanha com uma espantosa e sistemática prática terrorista. Bastam estas linhas trasmitidas por outra importante agência europeia de notícias: "O assassinato, na quarta-feira, de um responsável pela usina nuclear de Natanz, no centro do Irã, conta três precedentes desde janeiro de 2010."
Em 12 de janeiro daquele ano, "um físico nuclear internacionalmente reconhecido, Masud Alí Mohamadi, professor na universidade de Teerã e que trabalhava para os Guardiães da Revolução, morreu na explosão de uma moto-bomba diante de seu domicílio."
29 de novembro de 2010: "Majid Shahriari, fundador da Sociedade Nuclear do Irã e 'encarregado de um dos grandes projetos da Organização iraniana de energia atômica' [...] foi morto em Teerã pela explosão de uma bomba magnética fixada em seu automóvel."
"No mesmo dia, outro físico nuclear, Fereydoun Abasi Davani, foi alvo de um atentado em condições idênticas quando estacionava seu carro diante da universidade Shahid Beheshti em Teerã, onde os dois homens eram professores." – Só ficou ferido.
23 de julho de 2011: "O cientista Dariush Rezainejad, que trabalhava em projetos do Ministério da Defesa, foi morto a tiros por desconhecidos que se deslocavam em uma moto em Teerã."
11 de janeiro de 2012: – no mesmo dia em que Ahmadinejad viajava da Nicarágua a Cuba, para dar sua conferência na Universidade de Havana – "O cientista Mustafa Ahmadi Roshan, que trabalhava na usina de Natanz, da qual era vice-diretor para assuntos comerciais, morreu na explosão de uma bomba magnética colocada sob seu automóvel, perto da universidade Allameh Tabatabai, a leste de Teerã". Como em anos anteriores, o "Irã acusou novamente os Estados Unidos e Israel".
Trata-se de uma carnificina seletiva de brilhantes cientistas iranianos sistematicamente assassinados. Li artigos de conhecidos simpatizantes de Israel que falam de crimes realizados por seus serviços de inteligência, em cooperação com os dos Estados Unidos e a Otan, como algo normal.
Ao mesmo tempo, desde Moscou as agências informam que "a Rússia advertiu hoje que na Síria está amadurecendo um cenário similar ao da Líbia, mas alertou que desta vez o ataque virá da vizinha Turquia.
O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, sustentou que o Ocidente deseja 'castigar Damasco não tanto pela repressão à oposição mas por sua relutância em interromper sua aliança com Teerã'.
...em sua opinião, na Síria está amadurecendo um cenário como o da Líbia, mas nesta oportunidade, as forças de ataque não virão da França, Grã-Bretanha e Itália, mas da Turquia.
Inclusive, se atreveu a adiantar que 'é possível que Washington e Ancara já estejam definindo várias opções de zonas de exclusão de voos, onde exércitos armados de rebeldes sírios poderias ser treinados e concentrados'."
As notícias não só procedem do Irã e do Oriente Médio, mas também de outros pontos da Ásia Central próximos ao Oriente Médio. As mesmas nos permitem apreciar a complexidade dos problemas que podem derivar-se dessa perigosa região.
Os Estados Unidos foram levados por sua contraditória e absurda política imperial a problemas sérios em países como o Paquistão, cujas fronteiras com outro importante estado, o Afeganistão, foram traçadas pelos colonialistas sem tomar em conta cultura nem etnias.
Neste último país, que durante séculos defendeu sua independência frente ao colonialismo inglês, a produção de drogas se multiplicou desde a invasão ianque, e os soldados europeus, apoiados pelos aviões sem piloto e armamento sofisticado dos Estados Unidos, cometem embaraçosas matanças que incrementam o ódio da população e afastam as possibilidades de paz. Isso e outras imundícies também se refletem nos despachos das agências ocidentais de notícias.
"Washington, 12 de janeiro de 2012 - O secretário estadunidense da Defesa, Leon Panetta, qualificou nesta quinta-feira de 'absolutamente lamentável' o comportamento de quatro homens apresentados como marines norte-americanos urinando sobre cadáveres no Afeganistão em um vídeo difundido pela internet.
'Vi as imgens e encontro o comportamento (desses homens) absolutamente lamentável... Este comportamento é totalmente inapropriado da parte de membros do Exército estadunidense e não reflete em nenhum caso os critérios e os valores que nossas forças armadas juram respeitar'..."
Na realidade, nem o afirma nem o nega. Qualquer pessoa pode ficar com a dúvida e possivelmente o próprio secretário da Defesa.
Mas também é extremamente desumano, que homens, mulheres e crianças, ou um combatente afegão que luta contra a ocupação estrangeira, sejam assassinados pelas bombas dos aviões sem piloto. Algo também muito grave: dezenas de soldados e oficiais paquistaneses, que cuidavam das fronteiras do país, têm sido destroçados por essas bombas.
Em declarações do próprio Karzai, presidente do Afeganistão, este expressou que o ultraje aos cadáveres era "'simplemente desumano', e pediu ao governo estadunidense que 'aplique o castigo mais severo a quem quer que seja que acabe sendo condenado por este crime'."
Porta-vozes dos talibãs declararam que "nos dez últimos anos se deram centenas de atos similares que não foram revelados..."
Inclusive sente-se lástima por aqueles soldados, separados de familiares e amigos, a milhares de quilômetros de sua própria pátria, enviados para lutar em países que nem sequer talvez tenham ouvido falar quando estavam nas escolas, onde lhes atribuem a tarefa de matar ou morrer para enriquecer empresas transnacionais, fabricantes de armas e políticos inescrupulosos, que dilapidam a cada ano os fundos que são necessários para a alimentação e a educação dos incontáveis milhões de famintos e analfabetos no mundo.
Não poucos desses soldados, vítimas dos traumas sofridos, terminam privando-se de sua própria vida.
Por acaso exagero quando afirmo que a paz mundial pende por um fio?
Fidel Castro Ruz
12 de janeiro de 2012, 21 h 14
Fonte: Cubadebate

domingo, 15 de janeiro de 2012

A Comuna de Paris SOBRE " A COMUNA DE PARIS"

"Na alvorada de 18 de Março (1871), Paris foi despertada por este grito de trovão: VIVE LA COMMUNE! O que é pois a Comuna, essa esfinge que põe tão duramente à prova o entendimento burguês?

Mas a classe operária não se pode contentar com tomar o aparelho de Estado tal como ele é e de o pôr a funcionar por sua própria conta.
O poder centralizado do Estado, com os seus órgãos presentes por toda a parte: exército permanente, polícia, burocracia, clero e magistratura, órgãos moldados segundo um plano de divisão sistemática e hierárquica do trabalho, data da época da monarquia absoluta, em que servia à sociedade burguesa nascente de arma poderosa nas suas lutas contra o feudalismo."
"Em presença de ameaça de sublevação do proletariado, a classe possidente unida utilizou então o poder de Estado, aberta e ostensivamente, como o engenho de guerra nacional do capital contra o trabalho. Na sua cruzada permanente contra as massas dos produtores, foi forçada não só a investir o executivo de poderes de repressão cada vez maiores, mas também a retirar pouco a pouco à sua própria fortaleza parlamentar, a Assembleia Nacional, todos os meios de defesa contra o executivo."
"O poder de Estado, que parecia planar bem acima da sociedade, era todavia, ele próprio, o maior escândalo desta sociedade e, ao mesmo tempo, o foco de todas as corrupções."
"O primeiro decreto da Comuna foi pois a supressão do exército permanente e a sua substituição pelo povo em armas.
A Comuna era composta por conselheiros municipais, eleitos por sufrágio universal nos diversos bairros da cidade. Eram responsáveis e revogáveis a todo o momento. A maioria dos seus membros eram naturalmente operários ou representantes reconhecidos da classe operária. A Comuna devia ser, não um organismo parlamentar, mas um corpo activo, ao mesmo tempo executivo e legislativo. Em vez de continuar a ser o instrumento do governo central, a polícia foi imediatamente despojada dos seus atributos políticos e transformada num instrumento da Comuna, responsável e revogável a todo o momento. O mesmo se deu com os outros funcionários de todos os outros ramos da administração. Desde os membros da Comuna até ao fundo da escala, a função pública devia ser assegurada com salários de operários."
" Uma vez abolidos o exército permanente e a polícia, instrumentos do poder material do antigo governo, a Comuna teve como objectivo quebrar o instrumento espiritual da opressão, o "poder dos padres"; decretou a dissolução e a expropriação de todas as igrejas, na medida em que elas constituíam corpos possidentes. Os padres foram remetidos para o calmo retiro da vida privada, onde viveriam das esmolas dos fiéis, à semelhança dos seus predecessores, os apóstolos. Todos os estabelecimentos de ensino foram abertos ao povo gratuitamente e, ao mesmo tempo, desembaraçados de toda a ingerência da Igreja e do Estado. Assim, não só a instrução se tornava acessível a todos, como a própria ciência era libertada das grilhetas com que os preconceitos de classe e o poder governamental a tinham acorrentado.
Os funcionários da justiça foram despojados dessa fingida independência que não servira senão para dissimular a sua vil submissão a todos os governos sucessivos, aos quais, um após outro, haviam prestado juramento de fidelidade, para em seguida os violar. Assim como o resto dos funcionários públicos, os magistrados e os juizes deviam ser eleitos, responsáveis e revogáveis."
"Após uma luta heróica de cinco dias, os operários foram esmagados. Fez-se então, entre os prisioneiros sem defesa, um massacre como se não tinha visto desde os dias das guerras civis que prepararam a queda da República romana. Pela primeira vez, a burguesia mostrava a que louca crueldade vingativa podia chegar quando o proletariado ousa afrontá-la, como classe à parte, com os seus próprios interesses e as suas próprias reivindicações. E, no entanto, 1848 não passou de um jogo de crianças, comparado com a raiva da burguesia em 1871."
"Proudhon, o socialista do pequeno campesinato e do artesanato, odiava positivamente a associação. Dizia dela que comportava mais inconvenientes do que vantagens, que era estéril por natureza e até mesmo prejudicial, pois entravava a liberdade do trabalhador; dogma puro e simples... E é também por isso que a Comuna foi o túmulo da escola proudhoniana do socialismo."
"As coisas não correram melhor aos blanquistas. Educados na escola da conspiração, ligados pela estrita disciplina que lhe é própria, partiam da ideia de que um número relativamente pequeno de homens resolutos e bem organizados era capaz, chegado o momento, não só de se apoderar do poder, mas também, desenvolvendo uma grande energia e audácia, de se manter nele durante um tempo suficientemente longo para conseguir arrastar a massa do povo para a Revolução e reuni-la à volta do pequeno grupo dirigente. Para isso era preciso, antes de mais nada, a mais estrita centralização ditatorial de todo o poder entre as mãos do novo governo revolucionário. E que fez a Comuna que, em maioria, se compunha precisamente de blanquistas? Em todas as suas proclamações aos franceses da província, convidava-os a uma livre federação de todas as comunas francesas com Paris, a uma organização nacional que, pela primeira vez, devia ser efectivamente criada pela própria nação. Quanto à força repressiva do governo outrora centralizado, o exército, a polícia política, a burocracia, criada por Napoleão em 1798, retomada depois com prontidão por cada novo governo e utilizada por ele contra os seus adversários, era justamente esta força que devia ser destruída por toda a parte, como o fora já em Paris."
"Para evitar esta transformação, inevitável em todos os regimes anteriores, do Estado e dos órgãos do Estado em senhores da sociedade, quando na origem eram seus servidores, a Comuna empregou dois meios infalíveis. Primeiro, submeteu todos os lugares, da administração, da justiça e do ensino, à escolha dos interessados através de eleição por sufrágio universal e, evidentemente, à revogação, em qualquer momento, por esses mesmos interessados. E segundo, retribuiu todos os serviços, dos mais baixos aos mais elevados, pelo mesmo salário que recebiam os outros operários. O vencimento mais alto que pagou foi de 6000 francos. Assim, punha-se termo à caça aos lugares e ao arrivismo, sem falar da decisão suplementar de impor mandatos imperativos aos delegados aos corpos representativos.
Esta destruição do poder de Estado, tal como fora até então, e a sua substituição por um poder novo, verdadeiramente democrático, estão detalhadamente descritas na terceira parte de A Guerra Civil.(Karl Marx) Mas era necessário voltar a referir aqui brevemente alguns dos seus traços, porque, precisamente na Alemanha, a superstição do Estado passou da filosofia para a consciência comum da burguesia e mesmo de muitos operários. Na concepção dos filósofos, o Estado é "a realização da Ideia" ou o reino de Deus na terra traduzido em linguagem filosófica, o domínio onde a verdade e a justiça eternas se realizam ou devem realizar-se. Daí esta veneração que se instala tanto mais facilmente quanto, logo desde o berço, fomos habituados a pensar que todos os assuntos e todos os interesses comuns da sociedade inteira não podem ser tratados senão como o foram até aqui, quer dizer, pelo Estado e pelas suas autoridades devidamente estabelecidas. E julga-se que já se deu um passo prodigiosamente ousado ao libertarmo-nos da fé na monarquia hereditária e ao jurarmos pela república democrática."
(FRIEDRICH ENGELS: Introdução á Guerra Civil em França )
"Em presença de ameaça de sublevação do proletariado, a classe possidente unida utilizou então o poder de Estado, aberta e ostensivamente, como engenho de guerra nacional do capital contra o trabalho"
"A constituição comunal restituiria ao corpo social todas as forças até então absorvidas pelo Estado parasita que se alimenta da sociedade e lhe paralisa o livre movimento"
"A unidade da nação não deveria ser quebrada, mas, pelo contrário organizada pela Constituição comunal; ela deveria tornar-se uma realidade pela destruição do poder de Estado que pretendia ser a encarnação desta unidade mas que queria ser independentemente desta mesma nação e superior a ela, quando não era mais do que uma sua excrescência parasitária."
"Em vez de se decidir de três em três, ou de seis em seis anos, qual o membro da classe dirigente que deveria "representar" e calcar aos pés o povo no Parlamento, o sufrágio universal devia servir um povo constituído em comunas, tal como o sufrágio individual serve qualquer patrão à procura de operários, de capatazes ou de contabilistas para a sua empresa."
"A Comuna era composta por conselheiros municipais, eleitos por sufrágio universal nos diversos bairros da cidade. A maioria dos seus membros eram naturalmente operários ou representantes reconhecidos da classe operária. A Comuna devia ser, não um organismo parlamentar, mas um corpo activo, ao mesmo tempo executivo e legislativo. Em vez de continuar a ser o instrumento do governo central, a polícia foi imediatamente despojada dos seus atributos políticos e transformada num instrumento da Comuna, responsável e revogável a todo o momento. O mesmo se deu com os outros funcionários de todos os ramos da administração. Desde os membros da Comuna até ao fundo da escala, a função pública devia ser assegurada com salários de operários. Os benefícios habituais e os emolumentos de representação dos altos dignatários do Estado desapareceram ao mesmo tempo que os altos dignatários. Os serviços públicos deixaram de ser propriedade privada das criaturas do governo central. Não só a administração municipal, mas toda a iniciativa até então exercida pelo Estado, foi posta nas mãos da Comuna."
"Uma vez abolidos o exército permanente e a polícia, instrumentos do poder material do antigo governo, a Comuna teve como objectivo quebrar o instrumento espiritual da opressão, o "poder dos padres"; decretou a dissolução e a expropriação de todas as igrejas, na medida em que elas constituíam corpos possidentes. Os padres foram remetidos para o calmo retiro da sua vida privada, onde viveriam das esmolas dos fiéis, à semelhança dos seus predecessores, os apóstolos."
"A Comuna realizou a palavra de ordem de todas as revoluções burguesas, um governo barato, abolindo essas duas grandes fontes de despesas que são o exército permanente e o funcionalismo de Estado."
"A supremacia política do produtor não pode coexistir com a eternização da sua escravatura social. A Comuna devia pois servir de alavanca para derrubar as bases económicas em que se fundamenta a existência das classes e, por conseguinte, a dominação de classe. Uma vez emancipado o trabalho, todo o homem se torna um trabalhador e o trabalho produtivo deixa de ser o atributo de uma classe."
"A Comuna tinha perfeitamente razão ao dizer aos camponeses: "A nossa vitória é a vossa única esperança".
"O domínio de classe já não se pode esconder sob um uniforme nacional, pois os governos nacionais formam um todo unido contra o proletariado."
"A Paris operária, com a sua Comuna, será para sempre celebrada como a gloriosa percursora de uma sociedade nova. A recordação dos seus mártires conserva-se piedosamente no grande coração da classe operária. Quanto aos seus exterminadores, a História já os pregou a um pelourinho eterno, e todas as orações dos seus padres não conseguirão resgatá-los.

Karl Marx (Guerra Civil em França - 30 de Maio de 1871)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Junto da Burguesia, Só Haverá Lugar para os Jacarés

O capitalismo, como se apresenta hoje, está mesmo para terminar. Mas não pelas mãos das forças oprimidas para a libertação econômica da maioria, mas pelo comando das classes dominantes, que, inteligentes e "sensitivas” que são, também já viram que a mula já está deitando no chão, de tanto rosetarem com ela mancando

E outras formas de dominação estão na ordem do dia, pelos avanços tecnológicos, colocados a serviço do capital, e com a cooptação de grande parte da esquerda, conservadora que é, que não tem respostas a dar, por atrasadas que são e distantes das camadas populares, e que está inebriada pela sua autodenominada função de “vanguardas condutoras da massa oprimida”, muitos confundindo empregos de barnabés com "estar no topo do Poder".

A História vem de longe. Das comunidades dos clãs (mais horizontais) ao sistema feudal com seus vassalos, ocorreu a desapropriação pelos clãs mais fortes, constituindo uma classe social muito forte, a dos senhores de terras, ou senhores feudais, transformados em “nobres” e correspondentes diretos da “vontade divina”. É lógico que, mesmo parcamente, eram os únicos que tinham acessos culturais ou tinham ao seu dispor quem dominava a cultura, as artes e a ciência, absorvidas do mundo árabe.

Do sistema feudal ao mercantilismo, desenvolveu-se o movimento das novas forças de rapinagem econômica do Novo Mundo, que se apropriavam da produção manufatureira e proto-industrial que incipientemente surgiam na Europa (as etapas da História Econômica não foram bruscas ou datadas exatamente, como muitos parecem pensar).

Com a rapinagem das matérias primas e “especiarias” dos países conquistados nas Américas, Ásia e África, chegando ao Velho Continente, comercialmente tornaram-se mais lucrativas, junto com as produções primeiramente manufatureiras, e depois semi-industriais (navios, artefatos de navegação e roupas etc.) - portanto, naquele momento, mais importantes do que extensões de terras da aristocracia semi-falimentar e já sem Povo para explorar, pois a mão-de-obra urbana crescia na mesma proporção do sumiço da mesma do setor rural, com o advento da urbanização galopante.

Do mercantilismo para o capitalismo industrial foi um pulo, processo que apenas representou a consolidação de uma burguesia que se formou através da apropriação da mais-valia, do trabalho da maioria, acabando inclusive com os artesãos, sob a desculpa de que precisavam massificar industrialmente os produtos (a história dos vinagreiros franceses é um exemplo).

O capitalismo desenvolve-se em suas fases "nacionais", exploratória, intervencionista, imperialista e agora oligopolista por excelência, onde as corporações com altas tecnologias a seu dispor dominaram os Estados, os que se dizem representantes do Povo e parte da Alma de populações inteiras, onde o fator cultural para a dominação é a alienação, má informação e quase nenhuma educação, além da iniqüidade social sem acessos disponíveis à saúde, trabalho, renda, lazer, segurança, transporte, etc.

Mas o espaço está pequeno para as corporações transacionais.
Corromper o Estado está caro e, volta e meia, eles têm uma surpresa (Irã,Venezuela, Bolívia e outros). Ficar matando os Sadams, Kadafis, e ficar sendo acusados de promover doenças e acidentes em líderes que se opõem ou podem ameaçá-los,  suja muito a imagem.  Os Estados ainda têm muitas regras republicanas e dá muita despesa corrompê-las.

Assim, é já bem visível o que se pode chamar de “Governo Mundial”, que dá as cartas a partir do domínio econômico, hoje representado por não mais de 300 famílias no mundo todo, muito bem disfarçadas em oligopólios, “holdings”, conglomerados multi-setoriais, em uma nova “árvore genealógica” muito mais econômica do que genética. É na defesa do interesse destes poucos e do emprego de seus capatazes subalternos que se dará a Nova Ordem Mundial.

Além do que, os exércitos de reserva produtiva estão quase maiores do que os ativos operários, e a tecnologia está a dispensar a necessidade de mão-de-obra, colocando a seguinte questão: o que fazer com os pobres sem lugar no sistema produtivo?

Nada! Deixá-los morrer à míngua, com supressão de direitos, saúde, e tudo o que sabemos. A população mundial sofrerá (está sofrendo) ataques onde os mais frágeis irão sucumbir sob venenos, transgênicos, poluição, violência social, urbana e rural.

A transição do feudalismo ao mercantilismo e deste para o capitalismo foi à custa do extermínio pela fome e peste de populações inteiras, além de guerras de conquista, com seus buchas de canhão na frente de batalha. Assim será a superação desta etapa do capitalismo. As classes dominantes sabem que, "para mudar, tem que haver motivos visíveis, para tergirversar os ocultos".

Portanto, o que vemos agora, e é o que eu quero sustentar, não é uma crise terminal do capitalismo, A FAVOR dos trabalhadores e oprimidos em geral, como muitos estão a propalar, vendo “Revolução” onde só há lamúrias pelo que foi perdido e era custeado pelo terceiro mundo. Há sim uma Etapa de Acumulação Capitalista, como a de 1929, do pós-guerra, dos anos 80 e agora. Cada uma destas etapas correspondeu a uma fase do capitalismo (nacional-imperialista, globalizado geopoliticamente e, agora, economicamente unificado).

Assim, penso eu, estamos, talvez, vendo o(s) último(s) movimento(s) do capitalismo, tal e qual ele se apresentou até hoje, representando a etapa de exploração do trabalho, no período industrial mecânico de desenvolvimento da humanidade, que está sendo substituída pela era Cibernética e Nanotecnológica. E com as classes dominantes muito fortalecidas, podendo trocar a mão-de-obra cara, e senhora de consciência sobre seus direitos sociais, pelos quase indigentes, em termos de direitos sociais, como somos nosotros, abaixo da linha do equador.

Desta forma, ao contrário do que vem sendo propalado pela maioria da esquerda brasileira, a que chamo carinhosamente de Ex-Esquerda Corporation W.C., o que há acima do Equador em nada se assemelha a períodos revolucionários ou mesmo pré-revolucionários, constituindo-se, no máximo, em um período de revoltas pelo “bem estar” perdido e, pelo visto, com muito pouca consciência ideológica, haja vista o desprezo ou pouca relevância que estes movimentos relegam aos que construíram boa parte da riqueza da Europa e EUA, como são os de origem árabe, asiática (de menor porte no exterior) e latino-americana (afinal, “farinha pouca meu pirão primeiro”).

Como já escrevi antes, em um comentário ao artigo do Leo Lince, no Correio da Cidadania, penso que o máximo que dá para fazer por agora é aproveitar o momento para tentar unificar as esquerdas com um programa de não colaboração de classes (não só em belas palavras), recusa à participação do jogo institucional, abdicando de quaisquer participações em governos, parlamentos e partidos institucionalizados na ordem legal burguesa, que de democrática, na verdade, nada tem.

Mas, a ver o que acontece com aqueles que se dizem parte da esquerda revolucionária, isso parece longe, lá no primeiro mundo e aqui no terceiro, particularmente no Brasil, onde temos vários reduzindo seus patamares ideológicos, programáticos, ampliando à direita seus leques aliancistas.

Tem Partido que diz ter se formado integrado pela via Revolucionária, mas que mascou o mesmo cacoete eleitoral do “derrotar Serra nas urnas e DiLLma nas ruas”, igualzinho aqueles que se dizem de esquerda e permanecem no PT. Outro que se diz retornando ao terreiro Revolucionário esteve há pouco na Grécia em reunião de Partidos que se dizem Comunistas e Operários (como sabem, a prática é o que determina o que somos e não os slogans), em uma sopa de letrinhas entre leninistas, estalinistas e outros, onde é impossível enxergar uma possível unidade, além dos nomes de suas agremiações.  Ainda nos brindou, este mesmo partido brasileiro, com a divulgação, como algo positivo, de que, na Rússia, a principal oposição a Putin é o... Partido Comunista Russo, de vocação stalinista inconteste. Vendem velocípede sem rodinhas como bicicleta de velocidade, e justificando a façanha como um ato de “agitação e propaganda”... Só se for contra. Outros apóiam os rebeldes financiados pela OTAN, em ação preparatória para a rapinagem energética em curso. Estes são os “revolucionários brasileiros”, ao menos aqueles que o dizem ser e estão vendo saída na política institucional burguesa, reunidos que estão em partidos que, a meu ver, apenas justificam o falso aspecto de “democracia” que temos entre nós.

Mas, neste curso de Titanic que vivemos, caso algo não surja de novidade no cenário político (e terá de ser obra dos homens e mulheres, e não de algum Deus ou Santo Salvador), o que poderá suceder?

Ora! A literatura, as artes pictóricas e musicais e a filmografia mundiais estão fartas de nos alertarem sobre o futuro, embora muitos duvidem da capacidade de alguns artistas nos colocarem frente a frente com o futuro.

Obras como Guernica (Pablo Picasso), A Barcarola (Pablo Neruda), Tropicália (Caetano Veloso), Vidas Secas (Graciliano Ramos), 2001, Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick), Idaho Transfer (Peter Fonda), O Discreto Charme da Burguesia (Luiz Buñuel) são algumas que posso citar, assim de repente, para ilustrar o que digo.

Mas existem três filmes que não posso deixar de colocar centralmente nesta exposição. O primeiro é O Sétimo Sêlo, obra prima de Ingmar Bergmann, onde, há cerca de 40 anos, nos colocou de frente para a invasão obscurantista das religiões (que me desculpe aquela ínfima minoria que lê o Evangelho como pessoas normais e progressistas, e não como aproveitadores da Fé alheia). As hordas de viventes submissos e tementes à morte (leia-se qualquer subversão da ordem), que apenas acompanham a própria mediocridade, através da iniqüidade social a que se acostumaram, sem certo comodismo (pensar e agir com a própria cabeça dá muito trabalho, angústias e aflições).

O segundo filme ao qual me reporto como principal é O Ovo da Serpente (também de Ingmar Bergmann), uma aula para aqueles que insistem em dizer que tudo o que está se configurando é obra de “interesses mais ou menos estanques entre si”, para combater o que acham uma exagerada visão própria de adeptos do que chamam de “teoria da conspiração”. Como se eu pudesse acreditar que o intrincado e complexo processo capitalista mundial, com sua rede de multi-configurações, pudesse ser erigido a partir de uma “mão invisível”, como quis que acreditássemos o tal do Adam Smith - em quem nem os verdadeiros capitalistas acreditam, apenas o apresentam como ídolo, para enganar os trouxas e dar desculpas para facínoras manterem as suas mãos bobas em uso.

E o terceiro filme, este do diretor Jean Jacques Annaud, que filmou o livro de Umberto Eco, O Nome da Rosa, nos coloca de frente com uma situação que persiste entre nós desde os tempos imemoriais, a segregação social e econômica da grande maioria do povo.

E tem gente que diz que a humanidade avançou. Não, a maioria da humanidade não avançou, se formos comparar a evolução tecnológica, extração e acumulação de riquezas, acumulação de saberes com o contingente social segregado através dos tempos e, principalmente, na atualidade. Às vezes penso que muitos que se dizem progressistas acham que o mundo começa nos jardins paulistas, passa por Ipanema e acaba em Nova Iorque...

Podemos relacionar um quarto filme, se considerarmos a última cena da tragicomédia, O Jovem Frankenstein (Roman Polansky), quando a personagem da linda Sharon Tate, em fuga do castelo do Vampiro, acaba por morder o cangote de seu herói (o próprio personagem de Polansky), indicando-nos que o vampirismo, afinal, venceu e saiu dos domínios restritos da Transilvânia...

Pensando, então, em tudo o que já li, vi e ouvi, e que há tempos nos vem alertando sobre o que se sucederá com nosotros, avento que urge, portanto, que não acompanhemos a visão pragmático-industrial do capitalismo, mas sim entendamos a lógica de comunidades consideradas mais primitivas que as nossas (índios bolivianos, dos Chiapas etc.), com suas lógicas mais simples e econômicas e de menor complexidade, para sabermos resistir aos novos tempos. Estes, considerados por muitos “vanguardistas de molde europeu” como politicamente inferiores, pois refratários às formas de organizações impostas pelas sociedades que nos exploram há 500 anos, são os que estão a nos dar exemplos de resistência, e até enquadramento de governante - que até apóiam (no caso de Evo Morales), mas dos quais não são vassalos, como se comportam os que fazem parte de nossa colonizada Ex-Esquerda Coorporation W.C em relação aos seus eleitos.

Infelizmente, o sonho de consumo extremo democratizado “para todos”, a adoção de quinquilharias tecnológicas, tornadas ultrapassadas, como verdadeiros calhambeques, a cada seis meses, nada mais é do que o grande desvio pequeno burguês que se entranhou na alma dos que dizem terem vindo para revolucionar a política, mas que apenas se adaptaram ao que veio de fora, como “última novidade”.

O jeito foi se adaptar à institucionalidade burguesa, mas com discurso esquerdista, para salvar a própria honra, mesmo desonrando a memória daqueles que verdadeiramente lutaram e lutam por um mundo realmente diferente. Não passam de Calabares modernos, para não os chamarmos pelo nome daquele ex-cabo da Marinha de triste existência, ainda entre nós. Já a burguesia não são os traidores, são os próprios inimigos de classe, que temos de combater diuturnamente, sem concessões tão fartas.

Bem, o que dá o nome a este artigo (Junto da Burguesia, Só Haverá Lugar para os Jacarés) decorre de que, ao andar nas margens do Canal de Marapendi, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, “a cidade maravilhosa”, deparamo-nos com enormes Jacarés, com cerca de até 3,5 metros de comprimento e cerca de 250 Kg, muito bem adaptados em ilhas de lodo feito do esgoto que sai “in natura” das ligações clandestinas dos edifícios da burguesia, misturando-se com o esgoto também não tratado das comunidades (antes se chamavam Favelas), desaguando no mar, “embelezando” a paisagem e turbinando o banho de mar dos cariocas e turistas “do Leme ao Pontal”. Não há praia no Rio e em Niterói em que o esgoto não esteja presente (que me conteste quem for capaz).

A minha conclusão, na mesma hora em que vi tal cena, foi a de que só poderão participar da festa da burguesia, e assim mesmo em função subalterna (quem sabe como animal para visitação turística, como já o são os moradores das favelas “pacificadas”), aqueles que se transformarem em Jacarés e se submeterem a morar no esgoto da iniqüidade social, que cada dia atinge mais e mais habitantes. Malgradas as novas nomenclaturas e faixas econômicas maquiadas, como é a nossa Nova Classe Média, que ganha ATÉ R$1500,00 por mês, ou R$333,00 “per capta” em famílias de 4 pessoas, sem educação, transporte, segurança e saúde pública.

Bom Jacaré para todos, neste 2012!!!


Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e não está gostando do cheiro deste 2012.

Tita Ferreira, pessoa cuja contribuição e observações foram essenciais para este artigo, recomenda o livro Não Verás País Nenhum (Ignácio de Loyola Brandão) e eu ainda sugiro o Admirável Mundo Novo, do excelente escritor estadunidense Aldos Huxley.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Trabalho e Humildade

Estava numa reunião  de pastoral, quando foi lido e refletido o Evangelho de Lucas 14,1.7-11; onde relata o almoço de Jesus na casa de um notável de seu tempo e conta uma admoestação de Jesus sobre o comportamento da pessoa.
   "Quando fores convidado ás bodas, não te sentes no primeiro lugar, pois pode ser que seja convidada outra pessoa de mais consideração do que tu, e, vindo o que te convidou, te diga:
 Cede o lugar a este.Terias então a confusão de dever ocupar o último lugar.Mas, quando fores convidado vai e tomar o último lugar, para que,quando vier o que te convidou, te diga:" Amigo, passa mais para cima.Então serás honrado na presença de todos os convivas.Porque todo aquele que se exaltar será humilhado,e todo aquele que se humilhar será exaltado".
  Na partilha da Palavra, havia uma eminente senhora de um movimento eclesial,que ficou escandalizada,assim como muitas pessoas,ficam escandalizadas,quando falo do meu trabalho.
  " Trabalho como reciclador", me respondem:" como pode tu com toda esta bagagem intelectual estas catando lixo, lá não é o teu lugar".
  Eis que ao trabalhar como reciclador ou catador, vi e percebi a solidariedade das pessoas humildes, irmãos e companheiro/as de trabalho para comigo.Os pobres na qual me dediquei de corpo e alma, em servi-los no trabalho pastoral ou militância social,pessoas que não professam a mesma crença do que eu.Na hora em que eu mais precisava, foram os primeiros á me estender a sua mão e solidariedade.
  Nestes dias no meu trabalho ao chegar numa residência fomos ofendidos pelo dono da casa que nos chamou de " vagabundos", como já vi pessoas humildes, falarem com desprezo e dizerem que não vão" trabalhar de lixeiro".
  Nos anos de 1970-1989, no ensino fundamental, na 1º série, havia uma cartilha imposta pela ditadura militar que dizia para as crianças:
  "Pedrinho estudou e virou doutor e Joãozinho não estudou e virou lixeiro".Onde a profissão de lixeiro é desprezada e colocada como sendo inferior e para pessoas inferiores.
  Ao trabalhar no meio dos catadores e recicladores, vivo na prática concreta a " Opção preferencial pelos pobres", sindo me cada vez mais franciscano.Mesmo não sendo franciscano, sou como escreve os teólogos José Arregi, José Maria Castillo e José Maria Diez-Alegria Gutierrez ( 1911-2010), " sou um franciscano ou jesuíta sem papeis( sem documento).
  Como fez São Francisco de Assis, na sua prática de vida, " no meio de gente comum e desprezada, de pobres e fracos, enfermos e leprosos e mendigos de beira de estrada"( São Francisco de Assis; Regra Não Bulada).
  Na humildade deste trabalho, quero educar os meus futuros filhos, a valorizar o trabalho, pois mesmo o trabalho mais humilde e desprezível, como o do gari, catador, faxineiro,como o do agricultor,pedreiro e pescador, tem o mesmo valor do que tem aquele que tem o curso superior como o médico, professor,arquiteto,advogado,engenheiro,jornalista ou do empresário, pois todo o trabalho está interligado.
  Diferente do que foi imposto na mentalidade de toda uma geração de brasileiros e brasileiras pelo regime militar e atualmente pela mídia.
  O humilde trabalho do gari, do reciclador, tem hoje, sem desprezar as outras categorias profissionais um valor muito importante, no cuidado de nossas cidades, bem como da preservação da vida no planeta.
   Pois como nos mostra o filme " Lixo Extraordinário", documentário da inglesa Lucy Walker e coodirigida pelos brasileiros Karen Haley e João Jardim, sobre a vida de trabalhadores do aterro sanitario de Duque de Caxias (RJ).
  O material transformado em lixo pela sociedade consumista se converte em fonte de vida de milhares de pessoas.Ser reciclador é ter orgulho de poder salvar a vida do planeta e o entregar as futuras gerações que são de fato os donos do planeta.
" Porque todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado" .
__________________ 
Por:  Júlio Lázaro Torma*
Colaborador deste blog

  * Membro da Equipe da Pastoral Operária ( Arquidiocese de Pelotas/ RS)
Por:  Júlio Lázaro Torma*

A ordem criminosa do mundo



Em novembro de 2008, a TVE (Espanha) exibiu um documentário intitulado “A ordem criminosa do mundo”. Nele, Eduardo Galeano, Jean Ziegler e outras personalidades mundiais falam sobre a transformação da ordem capitalista mundial em um esquema mortífero e criminoso para milhões de pessoas em todo o mundo. Mais de três anos depois, o documentário permanece mais atual do que nunca, com alguns traços antecipatórios da crise que viria atingir em cheio também a Europa. Reproduzimos aqui o vídeo, legendado em português, e algumas das principais afirmações de Galeano e Ziegler:

“Os verdadeiros donos do mundo hoje são invisíveis”

“Os verdadeiros donos do mundo hoje são invisíveis. Não estão submetidos a nenhum controle social, sindical, parlamentar. São homens nas sombras que procuram o governo do mundo. Atrás dos Estados, atrás das organizações internacionais, há um governo oligárquico, de muito poucas pessoas, mas que exercem um controle social sobre a humanidade, como jamais Papa algum, Imperador ou Rei teve”. (Jean Ziegler)

“O atual sistema universal de poder converteu o mundo num manicômio e num matadouro” (Eduardo Galeano).


“A globalização é uma grande mentira”

“O capital financeiro percorre o planeta 24 horas por dia com um único objetivo: buscar o lucro máximo. A globalização é uma grande mentira. Os donos do grande capital que dirigem o mecanismo da globalização dizem: Vamos criar economias unificadas pelo mundo inteiro e assim todos poderão desfrutar de riqueza e de progresso. O que existe, na verdade, é de uma economia de arquipélagos que a globalização criou” (Jean Ziegler).

“Há três organizações muito poderosas que regulam os acontecimentos econômicos: Banco Mundial, FMI e OMC; são os bombeiros piromaníacos. Elas são, fundamentalmente, organizações mercenárias da oligarquia do capital financeiro invisível mundial” (Jean Ziegler).

“Eu não creio que se possa lutar contra a pobreza e criar uma estratégia de luta contra a pobreza sem lutar contra a riqueza, contra os ricos, pois os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres” (José Collado, Missionário em Níger).

“Todos os dias neste planeta, segundo a FAO, 100 mil pessoas morrem de fome ou por causa de suas consequências imediatas” (Jean Ziegler).


“O dicionário também foi assassinado”

“Hoje as torturas são chamadas de “procedimento legal”, a traição se chama “realismo”, o oportunismo se chama “pragmatismo”, o imperialismo se chama “globalização” e as vítimas do imperialismo, “países em vias de desenvolvimento. O dicionário também foi assassinado pela organização criminosa do mundo. As palavras já não dizem o que dizem, ou não sabemos o que dizem” (Eduardo Galeano).

“Se hoje eu digo que faz falta uma rebelião, uma revolução, um desmoronamento, uma mudança total desta ordem mortífera e absurda do mundo, simplesmente estou sendo fiel á tradição mais íntima, mais sagrada da nossa civilização ocidental. O nosso dever primordial hoje deve ser reconquistar a mentalidade simbólica e dizer que a ordem mundial, tal como está, é criminosa. Ela é frontalmente contrária aos direitos do homem e aos textos fundacionais das nossas civilizações ocidentais” (Jean Ziegler).


“Se houvesse uma só morte por fome em Paris haveria uma revolta”

“A primeira coisa que devemos fazer é olhar para a situação de frente e não considerar como normal e natural a destruição, por exemplo, de 36 milhões de pessoas por culpa da fome e da desnutrição. Se houvesse uma só morte por fome em Paris haveria uma revolta. De nenhum modo devemos permitir que as grandes organizações de comunicação nos intimidem, nem as fábricas das teorias neoliberais das grandes corporações, pois todas as corporações se ocupam, primeiro, de controlar as consciências, de controlar como podem a imprensa e o debate público” (Jean Ziegler).

Carta Maior

VIDEO PARA ACORDAR PARA VERDADE - WAKE UP CALL



Não assista a este filme se você se baseia num sistema de crenças rígido que lhe dá significado à vida e uma falsa sensação de segurança. A informação apresentada neste filme é capaz de revolucinar sua vida, mas deve ser recebida com a mente aberta. A não ser que você esteja disposto(a) a pôr temporariamente tudo o que pensa ser verdade de lado e se abrir para a possibilidade de que talvez tenha sido enganodo(a) toda a sua vida, este filme não é para você.
Por: fudoshim

O POVO

Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, que se lamentam em vão.
Estes homens, são o Povo.
Estes homens estão sob o peso de calor e de sol, transidos pelas chuvas, roídos de frio, descalços, mal nutridos; lavram a terra, revolvem-na, gastam a sua vida, a sua força, para criar o pão, o alimento de todos.
Estes são o Povo, e são os que nos alimentam.
Estes homens vivem nas fábricas, pálidos, doentes, sem família, sem doces noites, sem um olhar amigo que os console, sem ter o repouso do corpo e a extensão da alma, e fabricam o linho, o pano, a seda, os estofos.
Estes homens são o Povo, e são os que nos vestem.
Estes homens vivem debaixo das minas, sem o sol e as doçuras consoladoras da Natureza, respiram mal, comendo pouco, sempre na véspera da morte, rotos, sujos, curvados, e extraem o metal, o minério, o cobre, o ferro, e toda a matéria das indústrias.
Estes homens são o Povo, e são os que nos enriquecem.
Estes homens, nos tempos de lutas e de crises, tomam as velhas armas da Pátria, e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, à neve, à chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos o nosso descanso opulento.
Estes homens são o Povo, e são os que nos defendem.
Estes homens formam equipagens dos navios, são lenhadores, guardadores de gado, servos mal retribuídos e desprezados.
Estes homens, são os que nos servem.
E o mundo oficial, opulento, soberano, o que faz a estes homens que o vestem, que o alimentam, que o enriquecem, que o defendem, que o servem?
Primeiro, despreza-os, não pensa neles, não vela por eles, trata-os como se tratam os bois; deixa-lhes apenas uma pequena porção dos seus trabalhões dolorosos; não lhes melhora a sorte, cerca-os de obstáculos e de dificuldades; forma-lhes em redor uma servidão que os prende a uma miséria que os esmaga; não lhes dá proteção; e, terrível coisa, não os instrui: deixa-lhes morrer a alma.
É por isso que os que têm coração e alma, e amam a justiça, devem lutar e combater pelo Povo.
E ainda que não sejam escutados têm na amizade dele uma consolação suprema.
  
Eça de Queiroz

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